flick-o-rama

O espaço que faltava na blogosfera portuguesa! Uma cambada de nerd-wanna-bes ávidos de cóltura cinematográfica a mostrarem que na realidade nao pescam mesmo nada disto...

23.10.04

Bem vindos à Bósnia

Kusturica. É mais ou menos tudo o que eu tenho a dizer sobre este filme. Não, a sério, não há muito mais a dizer sobre A Vida é um Milagre (Zivot je Cudo). É Kusturica e disso não passa.
Vejamos: Bósnia, 1992. Luka é um engenheiro ferroviário que mora perto da linha de comboios que atravessa a sua aldeia, perto da fronteira com a Sérvia. Vive com a sua mulher (Jadranka), ex-cantora de ópera esquizofrénica, frustrada por ser obrigada a habitar a parvalheira e o filho Milos que joga futebol no clubezinho da aldeia, mas que quer mesmo é jogar no Partizan de Belgrado. Depois começa a guerra e Milos é chamado a lutar. No dia antes de ele partir para a tropa, a família dá uma grande festa de despedida, em que Jadranka foge com um músico húngaro. Passado algum tempo, Milos é feito prisioneiro pelos Sérvios. A última esperança de Luka de salvar o filho é uma prisioneira sérvia muçulmana, Sabaha (que antes da guerra trabalhava no hospital onde Jadranka ia de vez em quando), que é posta à sua guarda e que pode ser usada como moeda de troca. Tudo se complica quando Luka se começa a apaixonar por Sabaha e tem de escolher: ou ela ou o filho.

E é isto. Kusturica. Tem burros, cocainómanos, bandas de música, um gangsterzito permanentemente acompanhado de gajas boas, guerra na Jugoslávia e amores encantados no meio de um cenário desencantado. Kusturica em piloto automático, nada mais. E só por isso merece um 8/10.

7.10.04

Sebastião, o golfinho lavador de baleias

Entrei hoje pela primeira vez no cinema Londres para ver o Shark Tale (versão dobrada). É um entrenimento ligeiro, familiar, como convém a estas animações de família. A história peca, no entanto, por ser demasiadamente unidimensional. Um peixe, Óscar, que trabalha na lavagem de baleias (versão submarina da lavagem de carros) sonha ser alguém. Consegue-o quando começa a correr a história que ele matou um tubarão (que na verdade foi atingido por uma âncora). Quando o seu título de "Caça-Tubarões" começa a ser questionado (afinal, ninguém o viu a matar o tubarão, excepto duas alforrecas capangas de Sykes - chefe de Oscar - a quem aparentemente este deve alguns trocos), ele consegue a ajuda de Lenny, um tubarão "diferente", que é vegetariano e gosta de se vestir de golfinho. "Matando" Lenny, Oscar vê perpetuado o seu estatuto como herói da comunidade sub-aquática... e desperta a ira de Don Lino, o patrão da "máfia" tubaronesca (esta palavra existe?), porque, afinal, é o segundo filho deste que é morto às mãos de Oscar.

Cruzando alucinadoramente paródias a filmes de gangsters, estereótipos raciais - e sexuais, não me venham dizer que o Lenny não é uma metáfora de um tubarão "gay" -, filmes recentes e parodiando-se a si mesmo, na medida em que as expressões faciais dos peixes são feitas para corresponderem às pessoas que lhe dão voz na versão original (incluindo o famoso sinal de DeNiro, as sobrancelhas de Scorcese e os lábios de Angelina Jolie), o filme é bem melhor que o menos que óptimo Finding Nemo (a que é tantas vezes comparado). O filme da Disney/Pixar nunca se conseguia decidir se era um filme de paródia ou um filme a puxar à lágrima, enquanto este é apenas sátira da mais pura. Os que procuram uma história, no entanto, podem sair algo desiludidos.
Não posso acabar esta crítica sem mencionar o meu personagem favorito: o Zézé Choné (Crazy Joe na versão original). É pena é não o terem feito um sidekick do Oscar. Tivessem aqueles fantoches estado no filme mais do que cinco minutos e a minha apreciação do filme, certamente, melhoraria.

Sai do flickómetro com um 7/10 - um excelente filme para passar hora e meia se não se tiver nada melhor para fazer (como eu não tinha).

NOTA - Tenho uma certa felicidade em poder dizer que nesta terra já se sabem fazer dobragens. Se há uma coisa que já não me acontecia há muito tempo, era eu rir-me ao ver a versão dobrada de um filme. Ouvi dizer que o Shrek 2 também estava muito bom, mas isso não o posso verificar. Parabéns aos tugas que já conseguem dobrar um filme sem perder 90% das piadas e, mais importante ainda, mantendo o espírito do original. Dito isto, espero que o actual modelo de exibição de filmes mais infantis continue (ie, versões original e dobrada a serem exibidas ao mesmo tempo), porque para quem percebe é sempre preferível ver o original. Original que já estou em processo de "adquirir" (obrigado ao Namek por todo o novo significado que deu a este verbo) porque, por muito boa que seja uma dobragem - como esta era -, razão tinham os outros quando diziam que "o original é sempre melhor". Mainada.

The Unbreakable (DVD)

Acabei de comprar (e rever) The Unbreakable (ou o Protegido, na pecaminosa tradução portuguesa) em DVD, uma das fabulosas histórias de mestre Shyamalan (o realizador que, nas horas vagas, vende flores nos bares e discotecas de Philadelphia).
Neste filme, Bruce Willis interpreta um homem (David Dunn) que é o único sobrevivente de um desastre de comboio. Devido a este facto, um homem, Elijah Price (Samuel L. Jackson) fica com a sensação que David Dunn é o seu exacto oposto. Ele, que sofre de uma doença que faz com que os seus ossos se quebrem facilmente, toda a vida procurou uma pessoa que estivesse "do outro lado do espectro", isto é, que não se "quebrasse". Após ler muitas revistas de banda desenhada, Elijah está convencido que os heróis podem existir na vida real e que o herói que ele procura é David. O filme é bom e o nosso Eduardo Serra usa os ângulos de câmara de maneira fenomenal, fazendo toda a película parecer uma enorme banda desenhada, incorporando os planos afectos ao género.
Um 9/10 no flickómetro.
Já quanto ao DVD, tem infelizmente pouquíssimos extras, apenas um making of de dez minutps e meia dúzia de cenas cortadas (além do inevitável trailer), pelo que leva um positivo mas fraco 5/10. Poderia ser um pouco mais alto, não fosse o péssimo pormenor do DVD começar por uma secção "Já em Vídeo e DVD" incorporando trailers de outros filmes, o que me faz pensar se a FNAC ou a distribuidora não pôs à venda por engano uma versão destinada a clubes de vídeo...