flick-o-rama

O espaço que faltava na blogosfera portuguesa! Uma cambada de nerd-wanna-bes ávidos de cóltura cinematográfica a mostrarem que na realidade nao pescam mesmo nada disto...

13.7.05

Perdas na tradução

A FNAC Algarve já abriu e, para comemorar a minha primeira passagem por lá, um dos items que adquiri foi o DVD do Lost in Translation (o outro foi um romancezito chamado Fight Club, se é que alguém está interessado).
Bem, não se deixem enganar. Se Sofia Coppola tivesse contado a história ao ritmo que ordenam os canônes do cinema, o filme tinha, no máximo, vinte minutos. Mas esta não é uma história para ser contada depressa. Não há pressas. Temos tempo para ver Tóquio. Bob, um actor do star system de Hollywood com uma crise de meia idade (Bill Murray), e Charlotte, uma mulher que vê o seu curto casamento a ir por água abaixo (Scarlett Johansson), conhecem-se no bar do hotel de Tóquio onde ambos se encontram. Ele, por compromissos profissionais, ela, por compromissos profissionais do marido. Ambos estão profundamente aborrecidos e não conseguem dormir. Começam a fazer companhia um ao outro (e a apreciá-la) durante essas noites de insónia. A história é apenas isto. Não tem muito mais que contar. Acontece que o filme é brilhante. Conseguir veicular a estranheza de dois estrangeiros que se encontram numa grande cidade, conseguir retratar a ligação que se estabelece entre eles porque são como dois pequenos barcos num mar que não sabem navegar não é para qualquer um. A Coppola júnior consegue fazê-lo de forma sublime, sem que nada pareça forçado ou fora de sítio. Conseguimos verdadeiramente sentir como estão deslocados, fora do seu elemento e de como aquela ligação não se estabeleceria se estivessem os dois confortavelmente em casa, ele com a mulher e os filhos, ela com o marido e se se tivessem conhecido por acaso em Los Angeles. Outro excelente aspecto do filme é a fotografia. As cenas sucedem-se como uma procissão de eye candy e de dois em dois minutos vemos uma imagem que podia perfeitamente estar na capa do DVD. Excelente, em suma. Só não soube muito bem o que pensar do final, se devia estar à espera, se não, mas isso também contribui para ter gostado do filme, so, what the heck? 9/10 (aliás, um filme que começa com um grande plano do rabo da Scarlett Johansson nunca podia ter menos que isto).

O DVD em si é bom. Não é excelente, mas é bom. Tem um making of de meia hora (onde nos fartamos de ver a Sofia Coppola que às vezes parece que bateu com a cabeça quando era pequena, mas pronto, é uma querida, a senhora), meia dúzia de cenas cortadas, o inevitável trailer e ainda uma entrevistazita com o Bill Murray e a realizadora. 7/10 (Por 12 euros, não está mau)