flick-o-rama

O espaço que faltava na blogosfera portuguesa! Uma cambada de nerd-wanna-bes ávidos de cóltura cinematográfica a mostrarem que na realidade nao pescam mesmo nada disto...

28.7.04

there are colours in the clouds

Já atrasada em relação à sua exibição no circuito normal de cinema, fui ver o Girl with a pearl earring. Como já vem a tornar-se hábito, não gostei tanto como gostava/queria. O filme não tem nada de flagrantemente errado, mas a sensação com que fico é a de esperar que a narrativa se desenvolvesse mais; por alguma razão, fiquei com a impressão de que muitas coisas ficaram por contar, não por ser necessário para se compreender a história mas porque sim. Porque dá gosto ver histórias...? Não sei.
De qualquer maneira, é engraçado o modo como a maior parte das personagens [ou pelo menos aquelas que sabemos ir-se tornar as principais] não fala durante um bom bocado após o filme começar. Não se torna incómodo, eu achei divertido. Mesmo durante o filme todo, não têm muitas falas. No entanto, a representação deixa algo a desejar: Colin Firth (no papel do pintor Vermeer) parece forçar o artista introspectivo e incompreendido pela mulher no estereótipo do olhar sisudo, e mesmo a Scarlett Johansson (que interpreta a criada Griet) exagera nos suspiros cada vez que alguém entra numa sala surpreendendo-a, custa-me dizer.
O ritmo lento do filme não é entediante, pelo menos para quem não se importa com isso - a história vai acontecendo, por isso não custa ver. Mas um pormenor que se tornou irritante para mim (talvez por culpa minha) foi o facto de parecer que com cada plano se tentava dar uma imagem deslumbrante, fazer mais um quadro do que filmar uma cena; digo que isto pode ter sido culpa da minha própria influência porque foi muito publicitada a nomeação para o Óscar do trabalho do fotógrafo português que trabalhou na película. Seja como fôr, foi a impressão com que fiquei. De facto as imagens eram bonitas, mas se se tornam muito frequentes perdem o valor.
Sem querer parecer que quero desfazer o filme, uma coisa que fica pouco distinta é o motivo da paixão entre os protagonistas; fica claro que partilham um amor à arte (ela instintivamente, ele por educação), mas parece que falta qualquer coisa. "Beauty inspires obsession", dizem eles no slogan, mas não notei muita obsessão aqui.
Não deixa no entanto de ser interessante seguir os conflitos internos de Griet, dividida entre o que gosta de fazer e o que tem de fazer, dentro de uma mesma casa. Gostei particularmente, por essa ordem, da criada mais velha (não sei porquê, gosto quase sempre mais das personagens secundárias) e do ar permanentemente pedrado e alienado da mulher do pintor. Quem vai muito bem é a actriz que interpreta a sogra de punho de ferro (Judy Parfitt) e Tom Wilkinson, que consegue ser verdadeiramente execrável.
A juntar a uma banda sonora muito agradável, o filme vale a pena ver. Só não levem as expectativas que eu levei. ;)